sábado, 31 de dezembro de 2011

Pensando nas Férias


"Férias, o que isso significa? Férias de quê? Um descanso da própria neurose, próprias tendências neuróticas que formam nossa maneira confusa de enxergar a vida. Seria ótimo se só precisássemos mudar nosso ambiente e pudéssemos dar um tempo dos nossos hábitos e tendências neuróticos, que são a causa inicial de todo o estresse, frustração e insatisfação.

'Tirar férias da minha própria mente, da forma como enxergo a vida' seria bom. Então, você está de férias, por assim dizer e realmente enxerga as coisas diferentemente da forma normal de enxergar a vida. Se for assim, é bem útil sair de férias e dar-se a oportunidade de enxergar as coisas de forma diferente, reequilibrar os desequilíbrios que causam nossa confusão. 

Esse tipo de férias chama-se retiro, é um tempo para refinar nossa percepção, investigar o quê e por que estamos fazendo, além de dar um espaço à nossa percepção para enxergar de uma forma mais desperta."

(Mensagem de Ani la, publicada no site anizamba.org em 19.12.2011)
Em Inglês:

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Como está sua prática?

Ani Zamba em Ibicoara - Bahia (dez/2011)

"Lembrem-se que a vida é a prática e a prática é a vida. Não há nenhuma outra base para praticar senão o que está surgindo neste exato momento e a maneira como você vê e como reage ao que vê. Estas reações deixam certas impressões que agem como filtros de nossa percepção e condicionam a forma como veremos nossa experiência futura. Como sempre digo, seu condicionamento passado resulta em como você vê o presente e a maneira como vê o presente e como reage ao que vê, condicionam sua experiência futura em surgir como algo positivo, negativo ou neutro. Não há outra causa para que algo surja como bom ou ruim que não tenha tido um elemento condicionante prévio filtrando sua pecepção.

Então, o que fazer? Precisamos exaurir estes hábitos e tendências que criam estes filtros e fazemos isso através do relaxamento e liberando o que quer que esteja surgindo sem aderir nenhum valor, julgamento ou construindo alguma história. Apenas deixe surgir o que seja e observe o movimento de ir e vir. Quando se explora o espaço em que se surge, o espaço onde permanece, se há um lugar, e o espaço onde se dissolve, você verá que tudo é o mesmo espaço e nada realmente muda em sua própria natureza espaçosa e vazia. Precisamos ser capazes em descansar neste espaço de abertura mais e mais sem insistir em identificar o que possa estar surgindo. Apenas deixe ser como é e não haverá nada que incomode sua mente. Você começará a saborear sua própria liberdade básica mais e mais. Relaxamento é a chave. Acalme seu próprio processo natural de respiração, relaxe na expiração, e foque sua atenção na inspiração. Faça isso até que esteja acostumado com o que chamamos de foco relaxado ou relaxamento focado. Este é um fator essencial para prática, penetrar profundamente no entendimento dos seus próprios processos mentais e a verdadeira natureza da mente. Então, rigpa, ou estado desperto espaçoso além da fixação dualista se revelará mais e mais.

Com amor a todos, Ani Zamba"

(Mensagem de Ani Zamba publicada em anizamba.org no dia 17 de dezembro de 2011, trad. Lucas Lodrö) 

Original em Inglês:

sábado, 26 de novembro de 2011

O poço e o oceano


Confinados na escura e estreita prisão de nossas próprias criações, que nós tomamos como todo o universo, poucos de nós podem sequer começar a imaginar outra dimensão da mente. Patrul Rinpoche conta a história de um velho sapo que tinha vivido toda a sua vida em um poço úmido. Um dia, um sapo do mar foi visitá-lo.

"De onde 
você vem?", Perguntou o sapo no poço.
"Do grande oceano," ele respondeu.
"Quão grande é o seu oceano?"
gigantesco."
"Você quer dizer cerca de um quarto do tamanho do meu poço aqui?"
"Maior".
"Maior? Você quer dizer metade do tamanho? "
"Não, ainda maior."
"Ele é. . . tão grande quanto este poço? "
"Não há comparação." "Isso é impossível! Eu tenho que ver isso. "

Então eles partiram juntos. Quando o sapo do poço viu o oceano, foi um choque tão grande que sua cabeça simplesmente explodiu em pedaços.

(Glimpse of the day - Sogyal Rinpoche - publicado em 25 de novembro de 2011)

Em Inglês:

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Chave para a felicidade



"Caros amigos, próximos e distantes,

Saudações a todos neste Dia do Guru Rinpoche. Espero que estejam todos saudáveis e felizes.

Todos queremos ser felizes. Este é o nosso objetivo fundamental na vida, certo? Mas muitas vezes achamos difícil de conseguir. Quando não sabemos como lidar com nossas próprias emoções e nossa mente, então, às vezes, a vida pode se tornar muito cansativa e depressiva. Acima disso, a maioria de nós está tão ocupada nos dias de hoje, o que nos torna ainda mais estressados e tensos. Então aqui eu gostaria de compartilhar com vocês três maneiras simples que me ajudam a lidar com minhas emoções, e, assim, dão conforto.

1. Criar um espaço

Nesses dias temos tantas coisas para pensar: nossa saúde, nossa família, nosso trabalho, e, se você é um praticante do dharma, então, acima de tudo, você tem a meditação e prática do Dharma para se preocupar. Quando não sabemos como lidar com elas, essas preocupações podem fazer nossas mentes começarem lentamente a contrairem-se, tornando-se mais e mais estreitas, e, como conseqüência, mais negativas. Às vezes as coisas começam a oprimir-nos, e sentimo-nos presos fisicamente. Sentimos o peito apertado, e, então, soltamos um grande suspiro, numa tentativa de aliviar-nos desses sentimentos. Isso acontece às vezes. Um pequeno problema pode vir a parecer tão grande que não podemos lidar com ele de qualquer forma.

Uma boa maneira de lidar com isso é criar espaço mental. Ele ajuda a aliviar a tensão e nervoso em sua mente e em seu corpo também. Criar espaço é um método muito simples. Não é um ensinamento budista ou qualquer coisa assim. É simplesmente uma técnica que podemos aplicar para nos dar espaço, liberdade e alívio de todos os nossos pensamentos preocupantes.

Como criar espaço? Quando você tem alguns minutos, olhar à sua frente e simplesmente imaginar que você está cercado por um espaço vazio em todas as direções. Às vezes, é útil olhar para o céu vazio. Basta imaginar o espaço em toda parte: sem paredes, sem limites, sem prédios, nada.  E não comece a pensar sobre o trabalho, família, e coisas que você precisa fazer.

Basta imaginar que tudo é exatamente como o vasto, aberto céu, como o espaço vazio, e deixar sua mente misturar-se ao espaço, de modo que se torne muito vasta e aberta. Você pode fechar seus olhos, se isso ajuda. Imagine este espaço por um tempo curto. Após um minuto ou dois, você realmente começará a sentir espaço mentalmente. Seu peito se abrirá e você vai se sentir aliviado de todas aquelas tensões e pensamentos que estavam invadindo você a poucos minutos. Sua mente abre-se, e, em seguida, sua maneira de pensar muda, apenas com aquilo. Demora apenas cinco ou dez minutos e é tão fácil -  é a magia de criar espaço. Você não tem que acreditar em mim. Tente você mesmo e você verá.

2. Conhecendo suas próprias falhas e reduzindo julgamentos

Todos queremos ser felizes, certo? Sim ou não? Mas com o que nossa mente está  ocupada na maioria do tempo? Emoções negativas, julgamentos negativos e pensamentos negativos. Olhe para sua própria mente, e veja o padrão de emoções. Quantos deles são negativos? Você alguma vez já tinha dado a isso um momento de reflexão?

Então, o que você precisa fazer primeiro é reconhecer seus padrões de pensamento, suas emoções negativas e a forma como eles surgem, a forma como diferentes sentimentos surgem. Reconheça, perceba, mas não julgue. Há uma grande diferença entre perceber e julgar. Perceber é simplesmente reconhecer e tornar-se consciente de algo: "Oh, sim, eu tenho um problema com ciúme." Mas o julgamento vai um passo além, um passo longe demais, e começa a criticar: "Oh, sim, eu tenho um problema com o ciúme . Oh meu Deus, eu sou uma pessoa tão má. Eu não posso acreditar que eu cometi esse erro! Oh, eu me sinto tão terrível. Eu não posso suportar isso!...." Você vê a diferença? Julgamento tem esses laços emocionais,  enquanto perceber não os possui. Portanto, tente simplesmente observar suas faltas e não julgar.

O problema hoje em dia não é que as pessoas não estão fazendo o dharma ou outra prática espiritual e tentando melhorar. O problema hoje é que nós não percebemos e aceitamos nossas próprias faltas; assim, então, é claro que não melhoramos, não importa o quanto possamos tentar. É um pouco como tomar remédio para uma doença quando você não sabe nem mesmo qual doença você tem. Então, por favor dê  a isso  um momento de reflexão. Olhar honestamente para si mesmo e reconhecer suas próprias falhas e erros.

3. Compaixão e bondade amorosa

A terceira chave que eu gostaria de mencionar aqui é ter compaixão e bondade amorosa. Tradicionalmente falando, nos ensinamentos do Buda, a compaixão é definida como o desejo de que os seres estajam livres do sofrimento e da causa do sofrimento, e a bondade amorosa é o desejo de que os seres tenham felicidade e suas causas. Aqui, porém, eu gostaria de explicar a compaixão como significando um conhecimento básico ou empatia pelos outros, e a bondade como significando um bondoso e amável coração.

Compreender é tão importante. Por exemplo, para uma família ser feliz e harmoniosa os pais precisam entender seus filhos, serem capazes de ver as coisas do seu ponto de vista, e os filhos também precisam entender seus pais. É o mesmo em todas as situações, no escritório, outros relacionamentos, e assim por diante. Precisamos compartilhar uns com os outros, conhecer bem uns aos outros, e aprender a olhar para as coisas da perspectiva dos outros, precisamos nos colocar em seus sapatos. Se alguém está gritando com você, você acha que ele está feliz? Você acha que ele está gostando disso? Não, ele está chateado, estressado e com raiva, e mais tarde ele poderia muito bem sentir muito arrependimento pelo que está fazendo agora. Sim, muitas pessoas cometem erros, mas você acha que eles fazem isso intencionalmente? Você acha que eles fazem isso porque eles estão felizes? Não. Então tente entender isso, ao invés de reagir com mais raiva e julgamento do seu lado. Se você puder fazer isso, você vai sentir compaixão.

Outro aspecto da compaixão é que se você vir a compreender seus próprios problemas, e ganhar um pouco de liberdade a partir deles, naturalmente, a compaixão para com os outros surgirá. Por outro lado, quando você não perceber claramente seus próprios problemas, em primeiro lugar, e souber o sofrimento que você tem, então, como você pode ter compaixão pelos outros? Como você pode desejar que os outros sejam livres desse sofrimento, sofrimento que você sequer reconhece claramente em si mesmo? Então, primeiro você precisa ver o seu próprio problema. Como? Quando você cria o espaço, a primeira chave, e ganha alguma liberdade do seu stress e do ataque de pensamentos, você vê que está saindo dali, você vê os benefícios e como você se torna mais feliz. A partir do primeiro ponto, a criação de espaço, você pensa, "Oh, meu chefe, coitado. Se ele soubesse que com este método ele estaria em um lugar muito melhor do que está agora. Pobre rapaz. "

Quando você tem esse tipo de compaixão, sua mente torna-se mais e mais solta. Quando você foca mais nos outros, indiretamente você está reduzindo seu foco em  seu ego e, como resultado, em seguida, sua mente torna-se mais e mais relaxada, mais expansiva e mais inteligente. Você pode compartilhar estes três pontos com todos. Isso vai beneficiá-los, e não prejudicá-los. Então, essas são as três chaves para ser feliz.

Enviando-lhes  muito amor e carinho.
Sarva Mangalam,
Phakchok Rinpoche"

Original em Inglês:

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nascer e morrer a cada momento


"De acordo com a visão budista, nada é permanente, fixo ou sólido. O sentido de ser em cada um de nós, o 'eu', está nascendo e morrendo a cada momento. A totalidade da existência, o mundo inteiro de nossa experiência, está aparecendo e desaparecendo a cada momento. O que quer que aconteça depois da morte é simplesmente uma continuação do que está acontecendo agora nesta vida, embora se manifeste de maneiras inesperadas, como diz o texto: 'Samsara se reverte, e tudo aparece como luzes e imagens'. Não somos catapultados para um mundo completamente diferente, apenas percebemos o mundo de uma forma diferente".

(Trecho do livro Vazio Luminoso, de Francesca Fremantle, Ed. Nova Era, página 29).

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Duas Abordagens Essenciais do Caminho



Vamos examinar como abordamos nosso caminho. Primeiro precisamos entender nossa meta, e ter certeza que o caminho que estamos vai nos levar até lá. Verifique cuidadosamente, investigue também se o caminho que você está seguindo e praticando está realmente conduzindo você mais perto de seu objetivo.

1. Seu caminho é um caminho de desenvolvimento, que envolve a esfera da possibilidade, que, se você for do A-B-C e assim por diante você vai definitivamente chegar ao Z? Neste caso, você vê o Buda como seu potencial - algo a ser realizado no futuro, depois de completar um denominado caminho com várias etapas.

2. Seu caminho é um caminho de descoberta e revelação do que já está presente e perfeito dentro de você agora? A revelação de sua natureza búdica. Tudo o que você almejar como resultado do caminho é o caminho em si mesmo. Você só precisa ver para reconhecer o que está lá, em cada e todo momento e, constantemente, liberar o que está obscurecendo a própria natureza perfeita.

Isso daria a impressão que uma abordagem é a abordagem de esforço e a outra é a sem esforço, como uma envolve ter de desenvolver certas qualidades a fim de ver, e a outra abordagem apenas liberar o que está obscurecendo o que já está lá.

Esta segunda abordagem envolve o elemento essencial de relaxamento, a fim de ser capaz de, naturalmente, liberar o que talvez surja para obscurecer sua natureza a cada momento, visto que nós temos a tendência de agarrar para controlar, manipular, a fim de obter um resultado pré-fabricado, e isso é muito não natural.

É tão mais fácil relaxar e liberar que fazer as coisas serem de uma determinada maneira. Tão imediato - sua liberação é agora mesmo, neste momento, em cada momento, se você pode apenas relaxar e liberar tudo aquilo que você esteja segurando, então você permite que sua própria natureza revele-se mais e mais.

Por favor olhe para o que você está fazendo e como é seguir um caminho pra você. É a abordagem de desenvolvimento, ou a abordagem que revela e descobre o que já está presente? Chamamos isso de abordagem Causal e de abordagem de Resultado para a Liberação. Ambas são abordagens igualmente válidas, mas, por favor, tente entender que nós temos esta oportunidade de seguir um ou outro - você deve descobrir o que funciona para você pessoalmente, e nós só podemos fazer isso através da prática. 
 
Amor a todos vocês, Ani Zamba
 
(Publicado por Ani Zamba em 9 de outubro de 2011, no site anizamba.org)
Em Inglês:

sábado, 8 de outubro de 2011

Como seu caminho trabalha para você?


 

Olá a todos, espero que vocês estejam bem e felizes e, se não tão felizes, perguntem-se por que não, visto que ambas, a causa da felicidade e a causa da infelicidade, estão dentro de sua própria mente - em nenhum outro lugar. Quando falamos de um caminho espiritual, ele deve ser um caminho que trabalhará para nós - isso significa um caminho que pode ser utilizado em nossas vidas diárias.

Pelo menos 80 por cento do que você estuda e prática deve ser baseado nas situações da vida diária. É a sua interação com a própria vida. Você pode ver como isso funciona por meio de seus próprios hábitos e tendências, e como você reage ao mundo fenomênico em torno de você a cada momento.

Os outros 20 por cento podemos inserir no reino da possibilidade. De que modo as coisas podem mudar, se nós fazemos a mesma coisa em nossas vidas, embora a maioria do caminho precise de um retorno ao que está realmente acontecendo aqui e agora, e trabalhar com isso (?). De outro modo, nossa vida e nossa prática tornam-se duas questões separadas, e não estamos fazendo uso da oportunidade presente, visto que as mutáveis aparências continuamente surgem.

Não temos tempo a desperdiçar, não há tempo a se perder nas infinitas elaborações que podem ser apresentadas a nós como o nosso caminho. Pergunte a si mesmo: para onde a sua abordagem do caminho está levando você e se ele está funcionando para você, tanto quanto mudando a maneira como você vê a vida ou não. Talvez se não tomarmos cuidado, nosso caminho, que foi concebido para libertar-nos - para liberar-nos, em vez disso, acabará aprisionando-nos, porque não sabemos como usar as ferramentas corretamente.

Tenha certeza que o seu caminho é realmente em direção à terra, o nível da pia da cozinha - e não apenas ficar perdido na magia e no mistério que podem parecer tão sedutores, mas podem ser uma armadilha, se não se sabe como usar estes métodos, por vezes elaborados, que nos são apresentados.

O que estamos praticando aqui neste retiro, poderia ser dito que é um caminho sem anestésicos - apenas ver o que surge - aceitando sem colocar qualquer valor nas coisas, sem dar nenhuma objetividade para qualquer fenômeno - removendo o combustível do fogo da ilusão e confusão, para que o "assim como é" de qualquer coisa que surja, revele-se mais e mais.
 
Nenhum lugar para correr, nenhum lugar para se esconder, basta olhar para ver como criamos as causas e condições para a nossa felicidade e infelicidade. Cabe a nós encontrar a genuína felicidade e libertação - é nosso patrimônio esta básica liberdade que é nossa própria natureza.  

Amor a todos, Ani Zamba. 

(Mensagem de Ani Zamba em 6 de outubro de 2011, publicada em anizamba.org)

Em Inglês:

domingo, 2 de outubro de 2011

O Retiro Último - Dzongsar Khyentse



De forma ideal o retiro último é retirar-se do passado e do futuro, para sempre permanecer no presente. No entanto, nossa mente está muito apoderada e controlada pelo hábito todo o tempo. Uma característica do hábito é não ser capaz de sentar quieto, não ser capaz de permanecer no presente. Isso porquê estar no presente é tão assustador, tão monótono e insuportável para nossa mente deludida e mimada.

Pouco sabemos que, na verdade, estar no presente é muito excitante, e a maior liberação de todos os tipos de dor, sofrimento e ansiedade. Nós seres senscientes gostamos de estar livres de todas essas coisas, mas sempre acabamos diligentemente criando mais e mais causas e condições de ter essa dor, sofrimento e ansiedade.

Estar no presente é muito importante no budismo. É a estratégia central do budismo fazer o que for para manter a mente presente, ao invés de ter uma mente distraída. Todo singular método que existe no budismo é para esse resultado. Isso seria de uma simples meditação sentada a um método tântrico de visualização, ritual e mantra. Mesmo práticas elaboradas, incluindo certo tipo de dança tantrica, que é agora popularmente conhecida como dança dos lamas.

Com a miríade de métodos, um é basicamente retirar-se das atividades mundanas, e esperançosamente dos pensamentos mundanos, tanto quanto possível. Tradicionalmente, no Tibet, nós tentamos nos afastar da vida diária por algo como uma semana, três semanas, três meses, seis meses, três anos, nove anos. Mesmo hoje existem muitas pessoas no Tibet que estão na verdade em retiro por toda a vida. Entretanto, o retiro não tem que ser de três meses ou três anos. O que precisamos é ter a disciplina de retirar-se todo dia. Tal disciplina é retirar-se de nossas atividades ordinárias mundanas e, simplesmente, sentar-se em uma almofada de meditação consigo mesmo.

A idéia é evitar o envolvimento com as coisas que usualmente acabamos por nos engajar, como fofocar, conversar,  navegar na internet ou ler jornais. Temos muitos métodos budistas para nos ajudar nisso, desde o simples não fazer nada, que é o mais difícil, a todo o caminho de duas ou três horas de rituais e práticas. Não há razão para nós não podermos nos referir a isso como um retiro.

(Dzongsar Khyentse - retirado da última edição de "Gentle Voice", endereço eletrônico: http://gentlevoice.org/content/)

Em Inglês:

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Meditação e Espaço

Chogyam Trungpa Rinpoche

"Meditar é trabalhar com nossa pressa, com nossa inquietação, com nossa constante atividade. A meditação provê espaço ou terreno no qual a intranquilidade pode mover-se, onde pode haver lugar para ser intranquila, onde pode relaxar por estar sendo intranquila. Se não interferirmos na intranquilidade, então ela se tornará parte do espaço. Não reprimimos nem atacamos o desejo de correr atrás de nossa própria sombra.

Meditar não é uma questão de tentar criar um estado hipnótico da mente ou produzir uma sensação de tranquilidade. O esforço para alcançar um estado tranquilo da mente reflete uma mentalidade pobre. Ao buscarmos um estado tranquilo da mente, estamos nos prevenindo contra a intranquilidade. Portanto, haverá um contante senso de paranóia e limitação. Sentimos uma necessidade de estar em guarda contra repentinos acessos de paixão ou de agressividade que poderiam se apossar de nós, fazendo-nos perder o controle. Esse processo de defesa limita o campo da mente ao não aceitar o que quer que aconteça.

A meditação, ao contrário, deverá refletir uma mentalidade rica no sentido de que utiliza tudo o que ocorre no estado mental. Consequentemente, se dermos campo suficiente para a intranquilidade de modo que possa mover-se dentro do espaço, então a energia deixará de ser intranquila, pois pode basicamente confiar em si mesma.

Meditar é como entregar uma enorme e aprazível campina a uma vaca intranquila. Ela poderá ficar agitada por algum tempo no seu campo enorme, todavia em certo ponto, visto que há tanto espaço, a intranquilidade torna-se irrelevante. Assim, a vaca come, come insistentemente, relaxa e adormece.

Reconhecer a intranquilidade, identificar-se com ela, requer atenção, ao passo que fornecer um pasto aprazível, um espaço enorme para a vaca inquieta exige consciência. Por conseguinte, atenção e consciência sempre se complementam mutuamente.

Leia mais:

sábado, 10 de setembro de 2011

Como você enxerga o mundo?


"Tudo muda como mudam as condições, o que é maravilhoso em um momento pode ser terrível no próximo. Tudo depende se temos prazer ou desprazer no que pode estar acontecendo em nossas vidas, e se colocamos um valor positivo ou negativo sobre o que quer que seja. Não tanto no mundo externo que nos cerca, mas definitivamente, sobre a maneira como vemos o mundo e naquela situação no momento presente."

(Mensagem de Ani Zamba em 3 de agosto de 2011, publicada em anizamba.org, trad. Fátima)

Estado Natural da Mente


"De um modo geral, a mente tem uma orientação predominante para objetos externos. A atenção e o foco seguem as experiências sensoriais e permanecem num nível sensorial e conceitual. 

Assim, retire sua mente para dentro, não a deixando ir atrás de objetos sensoriais. Ao mesmo tempo, não se deve ter um retiro total, a ponto da obtusidade. Mantenha um estado de alerta e percepção. Depois, tente ver esse estado natural de sua consciência, em que não é afligida por pensamentos do passado, coisas que aconteceram, lembranças e assim por diante; também não deve ser afligida por pensamentos sobre o futuro, como planos, expectativas, medos e esperanças. Em vez disso tente permanecer no estado natural.

É um pouco como em um rio que corre impetuoso, não permitindo que se veja com clareza o seu leito. Se houvesse alguma maneira de interromper o fluxo de onde a corrente vem e para onde vai, então você poderia manter a água parada e ver o leito com nitidez.

Da mesma forma, quando você é capaz de evitar que a mente corra atrás de objetos sensoriais, quando pode evitar que a mente fique totalmente 'apagada', então começará a perceber que por trás dos processos de pensamento há uma profunda serenidade, uma tremenda lucidez. Você deve tentar fazer isso, embora seja muito difícil no estágio inicial. Especialmente no início, já que não há objeto específico para focalizar, há o perigo de adormecer.

No estágio inicial, quando você começa a experienciar o estado natural de sua consciência, será na forma de uma espécie de vácuo, ausência ou vazio. Isso acontece porque estamos tão habituados a compreender a mente em termos de objetos externos que tendemos a olhar para o mundo através de nossos conceitos, imagens e assim por diante. Assim, quando você retira a mente de objetos externos, é quase como se não pudesse reconhecê-la. Há uma espécie de ausência, de vácuo. Mas, à medida que você progride, pouco a pouco vai se acostumando e começa a perceber uma claridade latente, uma certa luminosidade. É nesse momento que você começa a reconhecer e compreender o estado natural da mente."

(Trecho do livro A Arte de Lidar com a Raiva, SS. Dalai Lama, Ed. Campus, páginas 185/186)

sábado, 30 de julho de 2011

Prática de salvamento de vidas - Domigo - dedicada a Ani Zamba

Caros amigos,

Dia 3 de agosto próximo é o aniversário de Ani Zamba Chözom¹. Para comemorarmos essa data tão especial, o Grupo Dipamkara convida a todos para fazermos prática de salvamento de vidas, que será patrocinada pelas sanghas de todo o Brasil, ligadas a Ani la, no dia 31 de julho (domingo).
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Todos são bem vindos a patrocinar o salvamento de vidas, assim como participar conosco deste momento.

Os seres vivos, sem exceção, buscam evitar sofrimento e obter felicidade, o que é fácil de constatar nos animais que nos são mais próximos, como gatinhos e cachorros.

Assim, caranguejos, camarões, mexilhões e outros, que seriam vendidos para abate, serão soltos em seu ambiente natural e propício, assim evitando que sejam mortos.

A virtude e os méritos, o karma positivo, acumulado pela salvação de vidas é enorme, têm grande poder purificador das nossas próprias ações negativas passadas, e pode ser dedicado para ajudar outros seres.

A prática - que será conduzida pelo Lama Kenpa² - inclui recitação de várias orações e mantras, finalizando com dedicação de mérito, e oferecimento de khatas. A dedicação será dirigida a Ani Zamba Chözom e para todos os seres sencientes.
Também oramos para que os próprios animais, depois de escapar do sofrimento de viverem confinados, serem fervidos vivos ou mortos com violência, encontrem um renascimento favorável, em conexão espiritual.
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"A compaixão é fundada sobre o entendimento de que ninguém deseja morrer, de que todo mundo valoriza sua própria vida. Quando salvamos uma vida com compaixão por outro ser, estamos engajando o poder de nosso corpo, fala e mente para fazermos algo para os outros. Isso purifica o carma negativo e corrige o habitual interesse próprio. Também desenvolve as nossas qualidades como um ser compassivo. Ao salvar a vida dos outros, podemos aumentar o benefício de nossa ação com o desejo de que todos os seres, sem exceção, tornem-se livres do sofrimento e venham a conhecer a bem-aventurança imutável da iluminação"  — Chagdud Tulku Rinpoche.
Se você tem interesse em participar, leia atentamente as observações abaixo:

- Não é necessário ser budista para participar;

- Data: 31 de julho de 2011 (domingo), pela manhã.

- Solicitamos às pessoas que doarão valores que o façam até o dia 30 de julho de 2011 (sábado), visto que compraremos os animais no domingo logo cedo;

- As pessoas interessadas em patrocinar o salvamento de vidas, podem fazer doação de QUALQUER VALOR, através de depósito na Ag. 4287-0, Conta nº 55.115-5, no Banco do Brasil (CPF nº 911.685.204-44, Wilton E. Ávila da Silva), OU podem entrar em contato através deste e-mail para combinar outra forma de envio do patrocínio. Salientamos que, mesmo as menores quantias, serão de grande ajuda: é mais um ser que será beneficiado;

- Solicitamos que, após efetuado depósito, seja encaminhado e-mail para dipamkaramaceio@gmail.com, informando o dia e o valor do depósito;

- Aqueles que desejarem participar da cerimônia devem entrar em contato através deste e-mail, e, desse modo, enviaremos o endereço em que nos encontraremos, bem como o texto;

- O texto da prática será entregue pessoalmente no dia;

Quaisquer dúvidas estamos à disposição.

Com carinho,

Grupo Dipamkara
 
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¹ Ani Zamba Chozom. A Venerável Bhikkuni Zamba Chözom nasceu em Londres em 1948 e tem praticado o Budismo há mais de 40 anos, tendo vivido a maior parte deste tempo na Ásia, onde praticou e ensinou no período. Entre seus professores está Thinley Norbu Rinpoche, Dudjom Rinpoche e Dilgo Khyentse Rinpoche. Agora ela vive no Brasil onde tem grupos e centros de meditação. Atualmente, dá continuidade ao Projetos Monte Azul Retiros e Visão de Dipamkara em Mucugê, na Bahia.

² Lama Kenpa. Nasceu em Tashigang, no Butão em 1957, no seio de uma família tradicional de lamas. Entre seus professores está Chatral Rinpoche, Lama Ugyen Dorje e Kenpo Rigdzin. Atualmente é responsável pelo Grupo de Práticas budista de Maceió, Tashi Chekhor Ling, criado em meados de Abril de 2010.

Fotos: (1) Ani Zamba na Chapada Diamantina; (2) Dilgo Khyentse Yangsi realizando prática de salvamento de vidas.

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Prece de Dedicação
Que das raízes virtuosas desta prática, as raízes virtuosas reunidas ao longo dos três tempos façam com que os ensinamentos de Buda prosperem e produzam uma imensa bondade virtuosa no mundo. Que as vidas de todas as pessoas sublimes que sustentam o Darma possam ser longas e estáveis, e que as suas atividades possam florescer. Que nós e todos os seres sencientes, especialmente (nome da pessoa que patrocinou a cerimônia ou para quem a cerimônia está sendo patrocinada), tenhamos nossas vidas e méritos, esplendor, prosperidade e sabedoria incrementados. Que estes animais possam também ser libertados dos medos do samsara e dos reinos inferiores e que rapidamente alcancem o estado precioso da iluminação. Jamyang Khyentse Wangpo

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Chegando no aqui e agora - Thich Nhat Hanh

No Sutra do Lotus, o Buda é descrito como a criatura mais respeitada e amada que caminhou sobre dois pés. Ele era tão amado porque sabia como aproveitar uma boa caminhada. Andar é uma importante forma de meditação budista. Isso pode ser uma profunda prática espiritual. Mas, quando o Buda caminhava, ele o fazia sem esforço. Ele não tinha que fazer força, porque quando você anda pratica a atenção plena, você está em contato com todas as maravilhas da vida dentro e ao redor de você. Esta é a melhor maneira de praticar, com a aparência de não-prática. Você não precisa fazer nenhum esforço, você não luta, você só aproveita a caminhada, mas isso é muito profundo. "A minha prática", disse o Buda, "é a não-prática, a realização da não-realização."

Para muitos de nós, a idéia de praticar sem esforço, do prazer descontraído da atençaõ plena, parece muito difícil. Isso é porque nós não andamos com os pés. É claro, que, fisicamente, nossos pés estão fazendo a caminhada, mas porque nossas mentes estão em outro lugar, não estamos andando com o nosso corpo e nossa consciência plena. Vemos nossas mentes e nossos corpos como duas coisas separadas. Enquanto os nossos corpos estão caminhando para um lado, nossa consciência está puxando para uma direção diferente.

Para o Buda, a mente eo corpo são dois aspectos da mesma coisa. Andar a pé é tão simples como colocar um pé na frente do outro. Mas achamos isso difícil ou tedioso. Nós dirigimos poucos quarteirões, em vez de andar, a fim de "poupar tempo." Quando compreendemos a interligação de nossos corpos e nossas mentes, o simples ato de caminhar como o Buda pode ser extremamente fácil e prazeroso.

Leia o restante do texto:

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os três erros que cometemos


"Do ponto de vista budista, quando olhamos para este mundo e fenômenos, nós sempre cometemos três erros. Não falaremos sobre todos os fenômenos ainda; falaremos sobre nossa mão, por exemplo. Quando olhamos para nossa mão, cometemos três erros. O primeiro é quando vemos uma mão permanente.

Esse é o primeiro grande erro que cometemos. Você poderia pensar, 'não, nós não”. Mas nós fazemos. Por exemplo, se você se perguntar, “Esta é a mesma mão que você tinha ontem?' Você dirá, 'sim'. Olhamos para nossa mão e pensamos que esta é exatamente a mesma que tínhamos ontem, antes de ontem, uma semana atrás. Este é o primeiro erro que nós cometemos, pensar que isso é uma entidade permanente. E isso é um grande erro porque não é uma entidade permanente. Ela tem mudado. Sua mão de ontem não voltará. Ela se foi para sempre. Declinou. Morreu!

O segundo erro é quando olhamos para nossa mão e a vemos como um todo. Isso é um erro muito grande novamente. Não existe essa entidade que você possa chamar de uma mão. Se você tiver treinado, você não vai ver a mão. Você vai ver a pele, ossos, sangue, nervos e componentes diferentes. Mas não podemos olhar para ela dessa forma. Olhamos para nossa mão como um todo, que, na verdade, não existe. Esse é o segundo erro.

O terceiro erro que cometemos, quando olhamos para nossa mão, é que estamos constantemente esquecidos que essa mão é dependente de muitas, muitas causas e condições. Não é apenas dependente de alimentos e hidratante, é dependente de tudo. Mesmo do fato de que este teto não caiu na minha mão, e é por isso que ela está se movendo. Minha mão é totalmente dependente de tudo - deste microfone, desta mesa, sua existência, o teto, o espaço, os elementos. Agora não percebemos isso!

Então a próxima pergunta que fazemos é: 'O que há de errado? Por que temos que evitar cometer esses erros?' Agora é importante saber que o budismo não é um caminho para desenvolver uma certa meditação para que você possa substituir essa mão por uma mão 'divina'. Essa nunca é a idéia, embora pareça isso porque você ouviu falar de técnicas de meditação, mantras, visualizações e assim por diante. Mas não estamos fazendo aquelas coisas para criar uma nova mão que é permanente, independente e um todo. Então o que estamos fazendo aqui? Primeiro, nós tentamos construir ou estabelecer essa visão, para realmente entender que essa mão é impermanente, é interdependente, e não há tal coisa como uma mão, como um todo. Na verdade, ela consiste em vários componentes.

Agora como isso ajuda? Por que temos que saber disso? Quando cometemos estes três erros constantes, nós vamos rumo à dor. Eu tenho me referido a eles como erros, mas o termo budista clássico é ignorância. Quando temos essa ignorância, ela nos leva a dor e sofrimento. E isso é muito óbvio. Quantos cremes hidratantes de mão estão disponíveis? Tudo porque as pessoas não sabem que não importa que tipo de hidratante você usa, essa mão vai deformar. Cedo ou tarde ela vai cair aos pedaços; será comida por aves um destes dias. Mas a maioria de nós não sabe disso.
Ok, então agora que sabemos que a nossa mão é impermanente, não é um todo, e é interdependente, devemos parar usar hidratante? Não, de forma alguma! De fato, podemos usar hidratante e comprar mais. Por quê? O fato de que isso é impermanente é o porquê do hidratante ajudar. Se sua mão estiver seca e se isso for permanente, a seca será permanente.

Você teria que aguentar uma mão seca e desconfortável! Mas porque é impermanente, o hidratante ajuda. Isso fará com que sua mão seja muito suave e macia. Mas também, porque você sabe que ela é impermanente, finalmente, quando todos os hidratantes se esgotarem, você não ficará muito chateado porque aceitou o fato de que sua mão é impermanente. Você entendeu? Este é um conhecimento muito importante. Agora, isso é o que chamamos de mão 'divina' - quando você sabe que essa mão não pode ser ajudada permanentemente, essa mão não pode ser substituída, esta mão é impermanente e ela é interdependente. Essa é a mão 'divina', a mão de Buda. E, na verdade, quer você acredite ou não, isso é o nirvana, isso é um pequeno momento do nirvana, já é um pequeno momento da iluminação.

Estou usando a mão apenas como exemplo. Em nossa vida existem tantas coisas assim - nosso sistema político, nosso sistema econômico, nossas ideias sobre os outros, nossas idéias sobre nós mesmos, a democracia, o budismo, o caminho, o dinheiro, e, principalmente, relacionamentos. Tenho certeza que você sabe disso. Quando olhamos para o relacionamento, mais uma vez cometemos estes três erros. Olhamos para essa relação como um todo, não em partes. Por exemplo, não vemos que nosso parceiro tem todos esses altos e baixos. Estamos apenas apegados a uma idéia abstrata de relacionamento como um todo. Mas isso realmente não funciona assim, não é? Quando você está com alguém, o seu ego e o ego dele(a) pisam no pé um do outro. E por quê? Porque naquele momento a verdadeira natureza de que não existe tal coisa como um relacionamento inteiro se torna claro. Isso vem em partes, aos poucos, em pedaços. Quando temos um relacionamento, temos de aceitar que isto vem no pacote.

E relacionamento é impermanente, também. Isso é muito óbvio, eu tenho certeza. Muitos de nós já passaram por isso pelo menos uma vez, se não cinco ou seis! Mas isso não pára. Continuamos a pensar que um dia vamos ter a relação perfeita, e este relacionamento perfeito é no geral permanente, uma relação independente e um relacionamento como um todo. Nós nunca olhamos para ele em partes. Esta é na verdade a visão budista. Você pode pensar que isso é simplista, mas isto é realmente ensinado no Avatamsaka Sutra, o Sutra Lankavatara e todos os ensinamentos budistas clássicos. E, como eu disse antes, o budismo é a sabedoria orientada, por isso, quando falamos de sabedoria, estamos falando de ver algo sem qualquer interferência da criação cultural ou social, de educação ou suas próprias inibições. Vendo a verdade, basicamente.

Onde se encaixa a compaixão aqui? Onde é que a não-violência se encaixa aqui? Muito mesmo. Se você tem essa grande visão de que tudo é interdependente, impermanente e que não existe tal coisa como um todo, esta compreensão não é somente sabedoria, é empatia.

Ajuda muito saber que, não importa o que eu faça - cirurgia plástica, lipoaspiração - minha mão está cada vez mais perto de decair. Então, quando você olha para seu parceiro que está completamente ocupado, cegamente acreditando que esse problema pode ser curado com tônico de ginseng ,ou qualquer outra coisa, porque você compreendeu a verdade, ou a visão, em vez de algum tipo de arrogância, você vai querer fazer essa pessoa entender esta verdade. Isso é a compaixão. E este é também o ato de não-violência. Essa é a visão budista."

Dzongsar Khyentse Rinpoche*

(Trecho do artigo "View, meditation, action", de Dzongsar Khyentse Rinpoche, publicado na revista gentle Voice, out 2003, páginas 2 e 3, Trad. Wilton)

* Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche (nascido em 1961), também conhecido comos Khyentse Norbu, é um Lama Butanês, diretor cinematográfico e escritos. É um dos professores de Ani Zamba Chözom.

Original em Inglês:

domingo, 22 de maio de 2011

Cotidiano

SS. Dudjom Rinpoche
"De certo modo, tudo é como um sonho e ilusório, mas, mesmo assim, bem humoradamente, você vai fazendo as coisas. 

Por exemplo, se você estiver andando, sem solenidade desnecessária ou auto-consciência, levemente caminhe em direção ao espaço aberto da verdade. Quando você sentar, esteja na fortaleza da verdade. Quando você comer, alimente suas negatividades e ilusões no estômago do vazio, dissolvendo-as no espaço que tudo permeia. E, quando você for ao banheiro, considere que todos os seus obscurecimentos e bloqueios estão sendo limpos e lavados. "  

SS. DUDJOM RINPOCHE
 
(Gimpse of the day, 22 de maio) 




 *Kyabje Dudjom Rinpoche ou Dudjom Jikdral Yeshe Dorje, foi um dos mais famosos yogues do Tibet, escolático e mestre de meditação da escola Nyingma. É considerado a emanação do aspecto da mente de Dudjom Lingpa. Foi um dos professores de Ani Zamba.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um indestrutível estado de ser

"Quando viajamos em um avião, acima das nuvens, percebemos que o sol está sempre brilhando, mesmo quando está nublado e chuvoso abaixo. Da mesma forma, quando deixamos de nos agarrar à nossa identidade, nosso ego, começamos a ver que a não existência do ego é um poderoso, real e indestrutível estado de ser. Percebemos que, como o sol, é uma situação contínua, que não aumenta ou diminui. Esse estado de ser é chamado natureza vajra" 
(Chögyam Trungpa, de “Sacred Outlook,” em The Heart of the Buddha, página 137)

Em inglês:

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Continuar na prática

Ani Zamba em Maceió - 2011
"Caros Amigos,

Na semana passada, nós tivemos um curto retiro aqui no feriado da Páscoa com um pequeno número de pessoas participando. Havia entre 12-16 pessoas, pois diferentes pessoas puderam se juntar a nós em dias diferentes. Realmente é difícil inspirar as pessoas com o desejo de dar continuidade em sua prática na vida diária. Parecia ser um tempo tão curto para introduzir uma forma alternativa de ver a vida, especialmente quando estamos tão apegados à nossa maneira de ver as coisas agora. A maioria das pessoas precisa de tempo para contemplar essas idéias profundas que são apresentadas como parte do caminho Budista. Primeiro, temos de ouvir e estudar, em seguida, contemplar e, finalmente, quando temos alguma convicção, à medida em que essas idéias podem fazer sentido e vemos o possível benefício de aplicá-las em nossas vidas diárias, então vamos meditar para familiarizar nossa percepção com esta forma alternativa de ver.

Para a maioria das pessoas, o caminho budista é como um hobby quando não têm nada mais a fazer e podem ter algum tempo livre. Elas não vêem o caminho como uma maneira de ver a própria vida, que elimina todas as condições que resultam em nossos vários sintomas de sofrimento que podem se manifestar como nossos: a frustração, ainsatisfação, conflitos emocionais e, em geral, todos os nossos altos e baixos.

Eu sinto que a maioria das pessoas não quer ver a verdadeira natureza das condições de mudança da vida, porque elas estão viciadas no feed-back que recebem de suas tendências neuróticas. É difícil de largar o que se está segurando, até a manutenção de uma sensação de falsa segurança. Acreditamos em certas idéias e sistemas de valores que mantêm nossa zona de conforto e raramente queremos confrontar nossas hipóteses, pois este tipo de investigação pode levar a algumas rachaduras que aparecem no nosso modo sólido e ilusório de ver o mundo. O que acontece então a todos os nossos pontos de referência - eles tendem a se tornar trêmulos à medida que  nosso auto-criado território psicológico começa a desmoronar.

Sem a continuidade da prática, não podemos relaxar o suficiente para ser capaz de descansar no que é natural. Em vez disso, vamos achar que estamos sempre tentando equilibrar o nosso foco entre a agitação e a apatia que toma o esforço e que significa um elemento de tensão. Quanto mais podemos relaxar e estar presente com o que quer que seja que esteja surgindo e apenas ver [a coisa] como  ela é, então, a tendência para fabricar enfraquece mais e mais. Através do relaxamento encontramos maior estabilidade e, através da estabilidade, encontramos clareza.

Vamos ver se as condições permitem nos encontrar novamente nas próximas semanas. 

Amor a todos vocês, Ani Zamba"

(Mensagem postada por Ani Zamba no site anizamba.org em 30/04/2011. Tradução:Fátima)