quarta-feira, 16 de maio de 2012

Fluir em Shamatta



Na prática da meditação, nem prendemos demais a mente, nem a deixamos completamente solta. Se tentarmos controlar a mente, sua energia retroagirá sobre nós. Se deixarmos a mente completamente solta, ela se tornará desenfreada e caótica. 

Assim, deixamos a mente livre, mas, ao mesmo tempo, aplicamos alguma disciplina. As técnicas usadas na tradição budista são extremamente simples: consciência dos movimentos corporais, da respiração e da situação física individual, são técnicas comuns a todas as tradições. A prática básica consiste em estar persente, aqui mesmo. O objetivo é também a técnica. Estar precisamente neste momento, não se reprimindo, nem se deixando fluir de modo incontrolado, mas estando precisamente consciente daquilo que se é. A respiração, assim como a existência física, é um processo neutro que não contém conotações "espirituais". Simplesmente nos tornamos atentos ao seu funcionamento natural. 

Esta prática é chamada Shamatha. Com ela começamos a trilhar o hinayana ou o caminho estreito. Isso não quer dizer que a abordagem do hinayana seja simplista ou limitada. Ao contrário, por ser a mente tão complicada, exótica, ansiando constantemente por todos os tipos de distração, o único meio de lidar com ela é canalizando-a num caminho disciplinado e sem desvios. O hinayana é um veículo que não é rápido, vai diretamente ao alvo e não toma atalhos. Não se tem nenhuma oportunidade de escapar; estamos exatamente aqui e não podemos sair. É um veículo sem marcha à ré. E a simplicidade dessa limitação traz também uma atitude aberta para com as situações de vida, pois compreendemos que não existe qualquer tipo de fuga e aceitamos estar exatamente neste momento. (in O Mito da LIberdade e o Caminho da Meditação, de Chogyam Trungpa, Ed. Cultrix, página 20).

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O propósito da realização de Shamatta

Nos Sutras, Shastras e Tantras é dito que a Shamatha é a base de todas as modalidades de meditação. Todos os estados meditativos (inclusive a Vipashyana) decorrem e dependem do desenvolvimento de Shamatha.

Exemplificando, se desejarmos cultivar algumas plantas, deveremos ter um bom solo e, se tivermos isso, não precisaremos despender grandes esforços no cultivo, porque as plantas crescerão rápida e facilmente. No entanto, se o solo for deficiente, não importa quanto esforço apliquemos, pois não obteremos bons vegetais. Similarmente, se tivermos uma boa Shamatha, então poderemos desenvolver com facilidade o Lúcido Entendimento e Poderes Especiais (vipashyana e Sabedoria).

Uma boa meditação Shamatha iria também diminuir todas as negatividades da mente, pela geração de um Estado de Paz. Assim, não importam as dores físicas, as penúrias e dificuldades, ou os obstáculos e confusões mentais que aconteçam: o sofrimento não mais nos prejudica porque todas estas coisas foram suprimidas, ou muito diminuidas, pela Estabilidade Mental.

No primeiro volume de seu os Estágios da Meditação do Caminho do Meio (Bhávana Krama Shastra, Gom Rim), Kamalashila afirma que quem for capaz de repousar no Estado de Equanimidade (Samadhi da Shamatha), será capaz de realizar o entendimento da Verdadeira Natureza de todas as coisas.

O Buda Shakyamuni também alcançou tal realização por meio do repouso no Estado de Equanimidade.

Se o Samadhi da Shamatha, o Repouso na Equanimidade, não for alcançado, a compreensão da Verdadeira Natureza dos fenômenos não será realizada. A mente continuará a ser como uma leve pluma soprada pelo vento, incapaz de permanecer em um só lugar.

(in Meditação Budista, Ven. Kenchen Thrangu Rinpoche - páginas 64 e 65)

Meditação: o valor do intervalo entre sessões

Dudjom Rinpoche costumava dizer que o iniciante deveria praticar meditação em sessões curtas. Praticar por quatro ou cinco minutos, então fazer um breve intervalo de apenas um minuto. Durante o intervalo, deixe ir o método, mas não deixe sua atenção ir completamente.

Às vezes, quando você tem lutado para praticar, curiosamente, no momento em que você rompe com o método - se você ainda está atento e presente - é o momento em que a meditação realmente acontece.  

É por isso que a pausa é uma parte da meditação tão importante quanto o sentar-se. Ocasionalmente eu digo aos meus alunos que estão tendo problemas com suas práticas para praticar durante o intervalo e fazer um intervalo durante a sua meditação!

(Glimpse of the Day - Sogyal Rinpoche - 14/06/2012)

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