terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Reconhecer a natureza búdica


"Um espelho sem manchas tem o poder ilimitado de refletir, mas este poder está temporariamente imperceptível quando o espelho é colocado numa caixa. Se a espada é removida da sua bainha ou se o espelho é removido da sua caixa, o poder das suas qualidades torna-se evidente. Quando a natureza búdica é reconhecida e utilizada, os seres sencientes tornam-se o mesmo que Buda" (Trecho do livro White Sail, de Dungsey Thinley Norbu Rinpoche, Ed. Shambhala, pág. 122).

English:

sábado, 31 de dezembro de 2011

Pensando nas Férias


"Férias, o que isso significa? Férias de quê? Um descanso da própria neurose, próprias tendências neuróticas que formam nossa maneira confusa de enxergar a vida. Seria ótimo se só precisássemos mudar nosso ambiente e pudéssemos dar um tempo dos nossos hábitos e tendências neuróticos, que são a causa inicial de todo o estresse, frustração e insatisfação.

'Tirar férias da minha própria mente, da forma como enxergo a vida' seria bom. Então, você está de férias, por assim dizer e realmente enxerga as coisas diferentemente da forma normal de enxergar a vida. Se for assim, é bem útil sair de férias e dar-se a oportunidade de enxergar as coisas de forma diferente, reequilibrar os desequilíbrios que causam nossa confusão. 

Esse tipo de férias chama-se retiro, é um tempo para refinar nossa percepção, investigar o quê e por que estamos fazendo, além de dar um espaço à nossa percepção para enxergar de uma forma mais desperta."

(Mensagem de Ani la, publicada no site anizamba.org em 19.12.2011)
Em Inglês:

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Como está sua prática?

Ani Zamba em Ibicoara - Bahia (dez/2011)

"Lembrem-se que a vida é a prática e a prática é a vida. Não há nenhuma outra base para praticar senão o que está surgindo neste exato momento e a maneira como você vê e como reage ao que vê. Estas reações deixam certas impressões que agem como filtros de nossa percepção e condicionam a forma como veremos nossa experiência futura. Como sempre digo, seu condicionamento passado resulta em como você vê o presente e a maneira como vê o presente e como reage ao que vê, condicionam sua experiência futura em surgir como algo positivo, negativo ou neutro. Não há outra causa para que algo surja como bom ou ruim que não tenha tido um elemento condicionante prévio filtrando sua pecepção.

Então, o que fazer? Precisamos exaurir estes hábitos e tendências que criam estes filtros e fazemos isso através do relaxamento e liberando o que quer que esteja surgindo sem aderir nenhum valor, julgamento ou construindo alguma história. Apenas deixe surgir o que seja e observe o movimento de ir e vir. Quando se explora o espaço em que se surge, o espaço onde permanece, se há um lugar, e o espaço onde se dissolve, você verá que tudo é o mesmo espaço e nada realmente muda em sua própria natureza espaçosa e vazia. Precisamos ser capazes em descansar neste espaço de abertura mais e mais sem insistir em identificar o que possa estar surgindo. Apenas deixe ser como é e não haverá nada que incomode sua mente. Você começará a saborear sua própria liberdade básica mais e mais. Relaxamento é a chave. Acalme seu próprio processo natural de respiração, relaxe na expiração, e foque sua atenção na inspiração. Faça isso até que esteja acostumado com o que chamamos de foco relaxado ou relaxamento focado. Este é um fator essencial para prática, penetrar profundamente no entendimento dos seus próprios processos mentais e a verdadeira natureza da mente. Então, rigpa, ou estado desperto espaçoso além da fixação dualista se revelará mais e mais.

Com amor a todos, Ani Zamba"

(Mensagem de Ani Zamba publicada em anizamba.org no dia 17 de dezembro de 2011, trad. Lucas Lodrö) 

Original em Inglês:

sábado, 26 de novembro de 2011

O poço e o oceano


Confinados na escura e estreita prisão de nossas próprias criações, que nós tomamos como todo o universo, poucos de nós podem sequer começar a imaginar outra dimensão da mente. Patrul Rinpoche conta a história de um velho sapo que tinha vivido toda a sua vida em um poço úmido. Um dia, um sapo do mar foi visitá-lo.

"De onde 
você vem?", Perguntou o sapo no poço.
"Do grande oceano," ele respondeu.
"Quão grande é o seu oceano?"
gigantesco."
"Você quer dizer cerca de um quarto do tamanho do meu poço aqui?"
"Maior".
"Maior? Você quer dizer metade do tamanho? "
"Não, ainda maior."
"Ele é. . . tão grande quanto este poço? "
"Não há comparação." "Isso é impossível! Eu tenho que ver isso. "

Então eles partiram juntos. Quando o sapo do poço viu o oceano, foi um choque tão grande que sua cabeça simplesmente explodiu em pedaços.

(Glimpse of the day - Sogyal Rinpoche - publicado em 25 de novembro de 2011)

Em Inglês:

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Chave para a felicidade



"Caros amigos, próximos e distantes,

Saudações a todos neste Dia do Guru Rinpoche. Espero que estejam todos saudáveis e felizes.

Todos queremos ser felizes. Este é o nosso objetivo fundamental na vida, certo? Mas muitas vezes achamos difícil de conseguir. Quando não sabemos como lidar com nossas próprias emoções e nossa mente, então, às vezes, a vida pode se tornar muito cansativa e depressiva. Acima disso, a maioria de nós está tão ocupada nos dias de hoje, o que nos torna ainda mais estressados e tensos. Então aqui eu gostaria de compartilhar com vocês três maneiras simples que me ajudam a lidar com minhas emoções, e, assim, dão conforto.

1. Criar um espaço

Nesses dias temos tantas coisas para pensar: nossa saúde, nossa família, nosso trabalho, e, se você é um praticante do dharma, então, acima de tudo, você tem a meditação e prática do Dharma para se preocupar. Quando não sabemos como lidar com elas, essas preocupações podem fazer nossas mentes começarem lentamente a contrairem-se, tornando-se mais e mais estreitas, e, como conseqüência, mais negativas. Às vezes as coisas começam a oprimir-nos, e sentimo-nos presos fisicamente. Sentimos o peito apertado, e, então, soltamos um grande suspiro, numa tentativa de aliviar-nos desses sentimentos. Isso acontece às vezes. Um pequeno problema pode vir a parecer tão grande que não podemos lidar com ele de qualquer forma.

Uma boa maneira de lidar com isso é criar espaço mental. Ele ajuda a aliviar a tensão e nervoso em sua mente e em seu corpo também. Criar espaço é um método muito simples. Não é um ensinamento budista ou qualquer coisa assim. É simplesmente uma técnica que podemos aplicar para nos dar espaço, liberdade e alívio de todos os nossos pensamentos preocupantes.

Como criar espaço? Quando você tem alguns minutos, olhar à sua frente e simplesmente imaginar que você está cercado por um espaço vazio em todas as direções. Às vezes, é útil olhar para o céu vazio. Basta imaginar o espaço em toda parte: sem paredes, sem limites, sem prédios, nada.  E não comece a pensar sobre o trabalho, família, e coisas que você precisa fazer.

Basta imaginar que tudo é exatamente como o vasto, aberto céu, como o espaço vazio, e deixar sua mente misturar-se ao espaço, de modo que se torne muito vasta e aberta. Você pode fechar seus olhos, se isso ajuda. Imagine este espaço por um tempo curto. Após um minuto ou dois, você realmente começará a sentir espaço mentalmente. Seu peito se abrirá e você vai se sentir aliviado de todas aquelas tensões e pensamentos que estavam invadindo você a poucos minutos. Sua mente abre-se, e, em seguida, sua maneira de pensar muda, apenas com aquilo. Demora apenas cinco ou dez minutos e é tão fácil -  é a magia de criar espaço. Você não tem que acreditar em mim. Tente você mesmo e você verá.

2. Conhecendo suas próprias falhas e reduzindo julgamentos

Todos queremos ser felizes, certo? Sim ou não? Mas com o que nossa mente está  ocupada na maioria do tempo? Emoções negativas, julgamentos negativos e pensamentos negativos. Olhe para sua própria mente, e veja o padrão de emoções. Quantos deles são negativos? Você alguma vez já tinha dado a isso um momento de reflexão?

Então, o que você precisa fazer primeiro é reconhecer seus padrões de pensamento, suas emoções negativas e a forma como eles surgem, a forma como diferentes sentimentos surgem. Reconheça, perceba, mas não julgue. Há uma grande diferença entre perceber e julgar. Perceber é simplesmente reconhecer e tornar-se consciente de algo: "Oh, sim, eu tenho um problema com ciúme." Mas o julgamento vai um passo além, um passo longe demais, e começa a criticar: "Oh, sim, eu tenho um problema com o ciúme . Oh meu Deus, eu sou uma pessoa tão má. Eu não posso acreditar que eu cometi esse erro! Oh, eu me sinto tão terrível. Eu não posso suportar isso!...." Você vê a diferença? Julgamento tem esses laços emocionais,  enquanto perceber não os possui. Portanto, tente simplesmente observar suas faltas e não julgar.

O problema hoje em dia não é que as pessoas não estão fazendo o dharma ou outra prática espiritual e tentando melhorar. O problema hoje é que nós não percebemos e aceitamos nossas próprias faltas; assim, então, é claro que não melhoramos, não importa o quanto possamos tentar. É um pouco como tomar remédio para uma doença quando você não sabe nem mesmo qual doença você tem. Então, por favor dê  a isso  um momento de reflexão. Olhar honestamente para si mesmo e reconhecer suas próprias falhas e erros.

3. Compaixão e bondade amorosa

A terceira chave que eu gostaria de mencionar aqui é ter compaixão e bondade amorosa. Tradicionalmente falando, nos ensinamentos do Buda, a compaixão é definida como o desejo de que os seres estajam livres do sofrimento e da causa do sofrimento, e a bondade amorosa é o desejo de que os seres tenham felicidade e suas causas. Aqui, porém, eu gostaria de explicar a compaixão como significando um conhecimento básico ou empatia pelos outros, e a bondade como significando um bondoso e amável coração.

Compreender é tão importante. Por exemplo, para uma família ser feliz e harmoniosa os pais precisam entender seus filhos, serem capazes de ver as coisas do seu ponto de vista, e os filhos também precisam entender seus pais. É o mesmo em todas as situações, no escritório, outros relacionamentos, e assim por diante. Precisamos compartilhar uns com os outros, conhecer bem uns aos outros, e aprender a olhar para as coisas da perspectiva dos outros, precisamos nos colocar em seus sapatos. Se alguém está gritando com você, você acha que ele está feliz? Você acha que ele está gostando disso? Não, ele está chateado, estressado e com raiva, e mais tarde ele poderia muito bem sentir muito arrependimento pelo que está fazendo agora. Sim, muitas pessoas cometem erros, mas você acha que eles fazem isso intencionalmente? Você acha que eles fazem isso porque eles estão felizes? Não. Então tente entender isso, ao invés de reagir com mais raiva e julgamento do seu lado. Se você puder fazer isso, você vai sentir compaixão.

Outro aspecto da compaixão é que se você vir a compreender seus próprios problemas, e ganhar um pouco de liberdade a partir deles, naturalmente, a compaixão para com os outros surgirá. Por outro lado, quando você não perceber claramente seus próprios problemas, em primeiro lugar, e souber o sofrimento que você tem, então, como você pode ter compaixão pelos outros? Como você pode desejar que os outros sejam livres desse sofrimento, sofrimento que você sequer reconhece claramente em si mesmo? Então, primeiro você precisa ver o seu próprio problema. Como? Quando você cria o espaço, a primeira chave, e ganha alguma liberdade do seu stress e do ataque de pensamentos, você vê que está saindo dali, você vê os benefícios e como você se torna mais feliz. A partir do primeiro ponto, a criação de espaço, você pensa, "Oh, meu chefe, coitado. Se ele soubesse que com este método ele estaria em um lugar muito melhor do que está agora. Pobre rapaz. "

Quando você tem esse tipo de compaixão, sua mente torna-se mais e mais solta. Quando você foca mais nos outros, indiretamente você está reduzindo seu foco em  seu ego e, como resultado, em seguida, sua mente torna-se mais e mais relaxada, mais expansiva e mais inteligente. Você pode compartilhar estes três pontos com todos. Isso vai beneficiá-los, e não prejudicá-los. Então, essas são as três chaves para ser feliz.

Enviando-lhes  muito amor e carinho.
Sarva Mangalam,
Phakchok Rinpoche"

Original em Inglês:

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nascer e morrer a cada momento


"De acordo com a visão budista, nada é permanente, fixo ou sólido. O sentido de ser em cada um de nós, o 'eu', está nascendo e morrendo a cada momento. A totalidade da existência, o mundo inteiro de nossa experiência, está aparecendo e desaparecendo a cada momento. O que quer que aconteça depois da morte é simplesmente uma continuação do que está acontecendo agora nesta vida, embora se manifeste de maneiras inesperadas, como diz o texto: 'Samsara se reverte, e tudo aparece como luzes e imagens'. Não somos catapultados para um mundo completamente diferente, apenas percebemos o mundo de uma forma diferente".

(Trecho do livro Vazio Luminoso, de Francesca Fremantle, Ed. Nova Era, página 29).

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Duas Abordagens Essenciais do Caminho



Vamos examinar como abordamos nosso caminho. Primeiro precisamos entender nossa meta, e ter certeza que o caminho que estamos vai nos levar até lá. Verifique cuidadosamente, investigue também se o caminho que você está seguindo e praticando está realmente conduzindo você mais perto de seu objetivo.

1. Seu caminho é um caminho de desenvolvimento, que envolve a esfera da possibilidade, que, se você for do A-B-C e assim por diante você vai definitivamente chegar ao Z? Neste caso, você vê o Buda como seu potencial - algo a ser realizado no futuro, depois de completar um denominado caminho com várias etapas.

2. Seu caminho é um caminho de descoberta e revelação do que já está presente e perfeito dentro de você agora? A revelação de sua natureza búdica. Tudo o que você almejar como resultado do caminho é o caminho em si mesmo. Você só precisa ver para reconhecer o que está lá, em cada e todo momento e, constantemente, liberar o que está obscurecendo a própria natureza perfeita.

Isso daria a impressão que uma abordagem é a abordagem de esforço e a outra é a sem esforço, como uma envolve ter de desenvolver certas qualidades a fim de ver, e a outra abordagem apenas liberar o que está obscurecendo o que já está lá.

Esta segunda abordagem envolve o elemento essencial de relaxamento, a fim de ser capaz de, naturalmente, liberar o que talvez surja para obscurecer sua natureza a cada momento, visto que nós temos a tendência de agarrar para controlar, manipular, a fim de obter um resultado pré-fabricado, e isso é muito não natural.

É tão mais fácil relaxar e liberar que fazer as coisas serem de uma determinada maneira. Tão imediato - sua liberação é agora mesmo, neste momento, em cada momento, se você pode apenas relaxar e liberar tudo aquilo que você esteja segurando, então você permite que sua própria natureza revele-se mais e mais.

Por favor olhe para o que você está fazendo e como é seguir um caminho pra você. É a abordagem de desenvolvimento, ou a abordagem que revela e descobre o que já está presente? Chamamos isso de abordagem Causal e de abordagem de Resultado para a Liberação. Ambas são abordagens igualmente válidas, mas, por favor, tente entender que nós temos esta oportunidade de seguir um ou outro - você deve descobrir o que funciona para você pessoalmente, e nós só podemos fazer isso através da prática. 
 
Amor a todos vocês, Ani Zamba
 
(Publicado por Ani Zamba em 9 de outubro de 2011, no site anizamba.org)
Em Inglês: