sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Tonglen - Dzongsar Khyentse

Tonglen é uma prática maravilhosa pois ela é uma técnica específica que pode invocar compaixão e bodhichitta. Repetidamente tem sido dito que nosso hábito de auto-cuidado e pensar apenas em nosso próprio bem estar é a fonte de miséria e sabotagem de nosso caminho espiritual, então o método óbvio para conter isso é cuidar dos outros.
O método é simples. Enquanto você expira, dê felicidade, virtude e riqueza materal a todo e cada ser sensciente sem exceção; enquanto inspira, absorva toda dor, sofrimento, problemas, obscurecimentos e pensamento e ações não virtuosos.
A prática de Tonglen é onde começamos a afinar nossa motivação e é talvez a melhor prática para o principiante. Como os grandes mestres Kadampa no passado nos têm dito, repetidamente, a prática da bodhichitta refere-se ao cultivo da atitude de dar todo o ganho e benefício aos outros, e tomar para si toda dor e derrota.
Um dos maiores flagelos sofridos pelas pessoas modernas é uma perda da auto-estima ou sentido saudável de ser. Isso leva alguns novos estudantes a perguntar se tomar o sofrimento dos outros na prática de tonglen poderia gerar neles perda da confiança em si mesmos. Justamente o oposto é real. A atitude que cultivamos como bodhisattvas - de cultivar o oferecimento do melhor de tudo para os outros e voluntariamente aceitar toda perda, sensação desprazerosa ou dificuldade - na verdade apoia nossa confiança e erradicamos completamente a perda de auto-estima.

Shantideva escreveu,

O que é necessário falar mais?
O trabalho infantil por seu próprio benefício,
O trabalho dos Budas pelo benefício dos outros.
Apenas olhe a diferença entre ambos.

Se eu não troco minha felicidade
Pelo sofrimento dos outros,
Não atingirei o estado búdico
E mesmo no samsara não terei real alegria.

De onde vem a baixa auto-estima? Aqueles que a possuem tendem a ter desenvolvido altamente o ego; eles cobiçam ser melhores em tudo e valorizados altamente por quem encontram, imaginam que seu ego está reprimido, fraco e precisam ser encorajados. Entretanto, uma vez que desenvolvemos a atitude de um bodhisattva, temos pequeno ou nenhum ego e então não existirá "eu" para preocupar-se em afastar todas as coisas boas ou estar aborrecido pelas coisas ruins. Aos bodhisattvas falta um "ego" como ponto de referência, e, desse modo, sua confiança continua a crescer, dando até mesmo à idéia de baixa auto-estima nenhuma chance de elevar-se como um lado repulsivo. Então, não tenha medo de aplicar-se na bodhichitta da aspiração de novo e de novo.
(Traduzido do livro "Not for Happyness: A Guide to the So-called Preliminary Practices", de Dzongsar Khyentse Rinpoche, Ed. Shamballa, 2012)

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