Na prática da meditação, nem prendemos demais a mente, nem a deixamos completamente solta. Se tentarmos controlar a mente, sua energia retroagirá sobre nós. Se deixarmos a mente completamente solta, ela se tornará desenfreada e caótica.
Assim, deixamos a mente livre, mas, ao mesmo tempo, aplicamos alguma disciplina. As técnicas usadas na tradição budista são extremamente simples: consciência dos movimentos corporais, da respiração e da situação física individual, são técnicas comuns a todas as tradições. A prática básica consiste em estar persente, aqui mesmo. O objetivo é também a técnica. Estar precisamente neste momento, não se reprimindo, nem se deixando fluir de modo incontrolado, mas estando precisamente consciente daquilo que se é. A respiração, assim como a existência física, é um processo neutro que não contém conotações "espirituais". Simplesmente nos tornamos atentos ao seu funcionamento natural.
Esta prática é chamada Shamatha. Com ela começamos a trilhar o hinayana ou o caminho estreito. Isso não quer dizer que a abordagem do hinayana seja simplista ou limitada. Ao contrário, por ser a mente tão complicada, exótica, ansiando constantemente por todos os tipos de distração, o único meio de lidar com ela é canalizando-a num caminho disciplinado e sem desvios. O hinayana é um veículo que não é rápido, vai diretamente ao alvo e não toma atalhos. Não se tem nenhuma oportunidade de escapar; estamos exatamente aqui e não podemos sair. É um veículo sem marcha à ré. E a simplicidade dessa limitação traz também uma atitude aberta para com as situações de vida, pois compreendemos que não existe qualquer tipo de fuga e aceitamos estar exatamente neste momento. (in O Mito da LIberdade e o Caminho da Meditação, de Chogyam Trungpa, Ed. Cultrix, página 20).
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