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Detalhe da "roda da vida", o Buda. |
"Caros amigos,
Sentar em um centro em Salvador, em uma área muito barulhenta da cidade, parece muito diferente de sentar em uma rocha, olhando os montes e vales do Dipamkara. Porém, na realidade, não se trata da localização, mas de como podemos realmente ser de benefício aos outros.
Como podemos conduzir nossas vidas de modo a eliminarmos as condições que recriam a confusão e o sofrimento, não apenas para nós mesmos mas também para todos os seres? Trabalhar com a confusão é o caminho. Algumas vezes esquecemos, e pensamos que o caminho é sobre como, onde e quanto tempo estamos sentados, ou, talvez, como estamos vestidos quando sentados. Os mudras que conhecemos, o número de mantras que tenhamos feito, as iniciações tomadas. Os gurus que encontramos.
Eu sempre digo que não se percam na elaboração. É tão fácil fazer isso. Olhem para os elementos essenciais do caminho e mantenham-se nesse rumo. Portanto, o que são esses? Claro que nossa mente, já que ela é a fonte de todas as nossas experiências.
Nada acontece em nossa vida sem a interpretação da mente, isso está acontecendo a cada momento. Essa interpretação gera as subidas e descidas em nossa vida, dependendo se nossa idéia e interpretação das condições é boa ou má, e se acreditamos em nossa interpretação como a realidade da situação. Esse é modo como isso ocorre. Todos fazemos isso constantemente, perdendo-nos em nossas projeções, que é o significado de Samsara, o qual é o mecanismo de nossa psicologia do ego e suas projeções. Então, o que é o Nirvana? É enxergar a natureza dessas projeções, para que nossa visão não fique mais distorcida pelos nossos hábitos dualísticos de percepção. Nós podemos simplesmente repousar na verdadeira natureza dos fenômenos.
Então, apreciamos as constantes mudanças nas aparências, mas estamos liberados de nossos hábitos de reação e investimento naquelas aparências, dando a elas conteúdo e significado, ou qualquer substância, que, na verdade, de seu próprio lado, elas não têm. Quanto mais vemos a natureza vazia de nossas projeções, mais enxergamos a natureza vazia do self que as percebe. Lembre-se que, a fim de que exista um objeto, é necessário um sujeito que o perceba. Se o sujeito não tem nada com o que jogar, qual o propósito de ter um sujeito ou percebedor? Isso é porque acreditamos em nossas projeções, de outro modo essa idéia de self não teria poder, sem resposta, sem referência, sem condições para essa ilusória e aparente existência.
Então, qual a diferença entre uma rua da cidade barulhenta e uma visão de montes e vales, já que ambas são apenas nossas projeções? Se a mente está agitada e confusa, então a forma que vemos aquele belo vale talvez esteja distante de ser tranquila. Enquanto, se nossa mente está calma e clara, aquela rua barulhenta talvez seja o mais calmo e pacífico lugar da terra – depende de você – a maravilha do caminho é que você começa a ver que pode escolher sua realidade, já que nada é fixo, nada é sólido, tudo é sua projeção e como ela é sua você pode trabalhar com ela.
Você não precisa ser uma vítima das circunstâncias mutáveis, você poderia ser um guerreiro que ressurge para os constantes desafios como um meio de aprofundar a própria compaixão e sabedoria. Como isso está expresso nos ensinamentos: a compaixão é a espontânea atividade da sabedoria. O que isso poderia significar? Que, quanto mais podemos estar mentalmente em descanso, sem nos perdermos em nossa fabricação mental, então, naturalmente, agiremos do espaço da consciência, nossa própria natureza de sabedoria. Enxergaremos todas as condições que os seres senscientes criam para aprisionar a si mesmos, através da infindável fabricação mental, e, também, veremos o caminho para eliminar a confusão.
O caminho é muito hábil, ele usa a fabricação mental para ir além dela mesma – é importante saber o que estamos fazendo, e o porquê de estarmos fazendo isso. Então, supostamente, agora estamos usando a fabricação mental, de forma habilidosa, como o caminho. Em vez de constantemente nos perdermos, usaremos nossas tendências habituais para trabalhar para nós, e não nos impedir de ver ou obscurecer nossa visão, mas habilitando-nos a ver como a fabricação mental funciona. De modo que, ao vermos a forma como o artifício trabalha para criar a ilusão, e uma vez que enxergamos isso, não mais estamos fascinados, e, então, não é necessário investir do mesmo jeito que faziamos, quando acreditávamos naquela aparência como algo tão real, tão verdadeiro. É a analogia do cinema: se você sabe que isso é um filme, você não investirá mentalmente do mesmo modo à medida que você percebe o que está realmente acontecendo.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, você sabe que isso é apenas um filme, só uma ilusão. Desse modo, o jeito que você enxerga torna-se muito iluminado e mais divertido. Você não acha? Você tem uma escolha, se quiser acreditar nisso. Você também tem a possibilidade de se afastar, como se as coisas fossem reais, e, então, não existem meios de trabalhar com elas. Desculpe as divagações. Amor a todos, Ani Zamba"
(Mensagem enviada por Ani Zamba ao yahoogroups em 17.08.2005 )
Original em inglês: