terça-feira, 7 de agosto de 2012

Além dos nossos hábitos


A fim de atingir o estado imaculado dos reinos búdicos, nossos hábitos devem ser purificados. Isso só pode acontecer se tivermos um ponto de vista que reconhece a base não substancial da mente. Durante o dia, uma pessoa pode lavar seu corpo e deixá-lo limpo, mas à noite ela ainda pode sonhar que está suja. Hábitos não podem ser purificados por métodos substanciais. Eles são purificados pela prática espiritual.

Se acreditarmos que a mente é a fonte de todas as aparências substanciais e não substanciais, podemos concluir que a mente é ilimitada e acreditar na nossa própria natureza búdica, que nos inspira a praticar. Então, pelo reconhecimento até mesmo de uma límpida centelha de consciência natural, essa centelha pode se tornar a grande chama da vasta, luminosa aparência do incomensurável céu da iluminação.

Os ensinamentos do budismo revelam que a mente é a base das infinitas variações de fenômenos,  incentivando-nos a influir sobre nossos próprios fenômenos, para que possamos tentar criar energia positiva através da intenção positiva, a fim de ir além de nossos hábitos e reconhecer a consciência natural.

(in White Sail - Crossing the Waves of Ocean to the Serene Continent of the Triple Gems, Thinley Norbu, pag. 31)
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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Um com as emoções

Estamos falando aqui de nos tornarmos um com as emoções. Isso difere e contrasta com a abordagem habitual de reprimi-las ou de exteriolizá-las. Reprimir nossas emoções é muito perigoso, pois significa que as estamos olhando como algo terrível, vergonhoso, o que demonstra que nosso relacionamento com elas não é realmente aberto. Uma vez que tentemos reprimi-las, mais cedo ou mais tarde elas acabarão emergindo e explodindo.

Existe outra possibilidade: a de que nós não reprimamos as nossas emoções, permitindo-nos realmente nos expor e então sermos levados por elas. Essa forma de lidar com as emoções também emana um certo tipo de pânico; nosso relacionamento com elas não está adequadamente ajustado. Esta constitui outra forma de escapar da emoção verdadeira, outro tipo de libertação, um falso alívio. É uma confusão entre mente e matéria, achando que o ato físico de exercitar as emoções, de pô-las em prática, supostamente as curará e acalmará sua irritação. Em geral, porém, isso lhes dá força e elas se tornam mais potentes. Nesse ponto, o relacionamento entre as emoções e a mente não está completamente claro.

Portanto, a maneira inteligente de lidar com as emoções é tentar nos relacionarmos com a  sua substância básica, com sua qualidade abstrata, digamos assim. O estado básico de ser das emoções, a natureza fundamental das emoções é apenas energia. E se estivermos aptos a nos relacionar com a energia, então ela não entrará em conflito conosco. Ela se tornará um processo natural. Portanto, tentar reprimir ou deixar-se levar pelas emoções passa a ser irrelevante, desde que a pessoa esteja completamente apta para ver a característica essencial delas, para ver as emoções tais como são, e isso é shunyata. A barreira, o muro entre nós e nossas projeções, o aspecto histérico e paranóico de nosso relacionamento com as nossas projeções foram removidos - não exatamente removidos, mas compreendidos. Quando não há pânico ao lidar com as emoções, podemos lidar com elas de uma forma completa e adequada. Nesse caso, nos igualamos a alguém completamente capacitado em sua profissão, que não entra em pânico, mas que, simplesmente, faz seu trabalho completa e meticulosamente.

(O Mito da Liberdade e o Caminho da Meditação, Chogyam Trungpa Rinpoche, p. 78)