"De um modo geral, a mente tem uma orientação predominante para objetos externos. A atenção e o foco seguem as experiências sensoriais e permanecem num nível sensorial e conceitual.
Assim, retire sua mente para dentro, não a deixando ir atrás de objetos sensoriais. Ao mesmo tempo, não se deve ter um retiro total, a ponto da obtusidade. Mantenha um estado de alerta e percepção. Depois, tente ver esse estado natural de sua consciência, em que não é afligida por pensamentos do passado, coisas que aconteceram, lembranças e assim por diante; também não deve ser afligida por pensamentos sobre o futuro, como planos, expectativas, medos e esperanças. Em vez disso tente permanecer no estado natural.
É um pouco como em um rio que corre impetuoso, não permitindo que se veja com clareza o seu leito. Se houvesse alguma maneira de interromper o fluxo de onde a corrente vem e para onde vai, então você poderia manter a água parada e ver o leito com nitidez.
Da mesma forma, quando você é capaz de evitar que a mente corra atrás de objetos sensoriais, quando pode evitar que a mente fique totalmente 'apagada', então começará a perceber que por trás dos processos de pensamento há uma profunda serenidade, uma tremenda lucidez. Você deve tentar fazer isso, embora seja muito difícil no estágio inicial. Especialmente no início, já que não há objeto específico para focalizar, há o perigo de adormecer.
No estágio inicial, quando você começa a experienciar o estado natural de sua consciência, será na forma de uma espécie de vácuo, ausência ou vazio. Isso acontece porque estamos tão habituados a compreender a mente em termos de objetos externos que tendemos a olhar para o mundo através de nossos conceitos, imagens e assim por diante. Assim, quando você retira a mente de objetos externos, é quase como se não pudesse reconhecê-la. Há uma espécie de ausência, de vácuo. Mas, à medida que você progride, pouco a pouco vai se acostumando e começa a perceber uma claridade latente, uma certa luminosidade. É nesse momento que você começa a reconhecer e compreender o estado natural da mente."
(Trecho do livro A Arte de Lidar com a Raiva, SS. Dalai Lama, Ed. Campus, páginas 185/186)
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